O atentado terrorista ocorrido nesta quarta-feira, 7, à redação do jornal francês “Charles Hebdo”, em Paris, que matou 12 pessoas, entre elas os cartunistas Charb (Stephane Charbonnier), Cabu (Jean Cabut), Wolinski (Georges) e Tignous (Bernard Verlhac), continua causando comoção e indignação em todo o mundo e mobilizando diversos chefes de Estado na guerra contra o terror e na defesa da liberdade de expressão.
No Brasil, no mesmo dia, a Associação dos Cartunistas do Brasil divulgou a seguinte nota oficial:
“Mais uma vez, estamos presenciando a barbárie na história humana com o atentado de fundamentalistas islâmicos à revista de sátiras Charlie Hebdo, que matou 12 pessoas, nesta quarta-feira (7), em Paris.
Entre os mortos estão o editor e chargista Charb (Stephane Charbonnier), os desenhistas Cabu, Tignous e o famoso cartunista Wolinski. A revista já havia sofrido um ataque em novembro de 2011, em uma tentativa dos terroristas de incendiar sua sede.
Em setembro de 2005, o jornal dinamarquês Jyllands-Posten publicou 12 charges que se utilizavam da imagem do profeta Maomé, que pela fé islâmica não pode ser representado em imagem qualquer, para atacar os radicais que utilizam a religião para promoverem o terrorismo no mundo. Esse acontecimento inflamou a já difícil relação do Ocidente com os povos islâmicos.
Por mais que um veículo de mídia – neste caso, de desenhistas – esteja desrespeitando esses preceitos religiosos, não se justifica essa violência, que é prejudicial aos próprios povos do Islã, já que o termo “islã” está ligado à palavra árabe salam, que significa paz – o que indica o caráter pacífico e tolerante da fé islâmica.
Repudiamos, sempre, todo e qualquer ato de violência à liberdade de expressão. O desenhista é justamente o artista que busca a defesa dos mais fracos e oprimidos, desde que as charges começaram há 200 anos. A palavra “charge” é francesa e significa “carga”, por ser sempre uma carga crítica aos governos e dogmas que mancham os direitos humanos e a livre expressão. Esses mesmos desenhistas, mortos, foram críticos em suas vidas em relação aos governos que oprimem povos de países do terceiro mundo.
Casos de abusos sempre devem ser resolvidos nas formas jurídicas e de manifestações pacíficas para que o mundo saiba que somos seres que se tratam como humanos e não como irracionais.
Esperamos que esse triste acontecimento seja um exemplo de intolerância a ser varrido das relações humanas para que a morte desses jornalistas e desenhistas não seja em vão.
Estamos em luto total.
José Alberto Lovetro, Presidente”.
O repúdio do Nani – Com trabalho influenciado pela pena de Georges Wolinski e abalado pelo acontecimento trágico, o cartunista e chargista, Nani (foto, Galeria de Fotos), cujo trabalho o mococa24horas reproduz diariamente, fez esta declaração, onde relata a importância do semanário “Charlie Hebdo” em sua vida:
“A minha geração teve muita influência do humor do 'Charlie Hebdo'. Na época do 'Pasquim', a redação recebia o jornal e também a revista 'Hara Kiri', de onde bebíamos ávidamente aquele humor satírico, cáustico e muito engraçado. Para o 'Charlie Hebdo' nada é sagrado.
É o humor em estado bruto. Na época da ditadura era o que precisávamos, um humor político direto e sem muita sutileza. Meu traço tem muita influência do Reiser que publicava lá e que morreu cedo.
O 'Charlie Hebdo' é um ícone na França, como Tintim e o Asterix. Temos que repudiar este atentado. A liberdade de expressão é um valor universal e o humor é um bem democrático. Os cartunistas vão resistir até a última gota de nanquim”.
Mortos os autores do massacre ao “Charlie Hebdo” – Nesta sexta-feira, 9, a agência francesa de notícias, Agence France-Presse, a AFP, está informando a morte dos supostos autores do massacre no tablóide satírico “Charles Hebdo”:
“Os supostos autores do massacre no jornal satírico francês Charlie Hebdo e o homem que fez reféns em um mercado de produtos judaicos de Paris, assim como 4 reféns, morreram nesta sexta-feira em duas ações realizadas quase simultaneamente pelas forças de ordem francesas em Dammartin-en-Goële (40 km a nordeste de Paris) e outro na capital.
Pouco antes das 17H00 (14H00 de Brasília), a unidade de elite da gendarmeria francesa lançou o ataque à gráfica de Dammartin, onde os dois suspeitos do ataque contra o Charlie Hebdo, Cherif e Said Kouachi, tinham se entrincheirado.
Os dois irmãos saíram do prédio atirando, informou uma fonte de segurança.
A pessoa que eles mantinham refém saiu ilesa.
Um membro da unidade de elite da gendarmeria ficou ferido na operação, mas não corre risco de vida.
Uma equipe de intervenção foi transportada de helicóptero até o teto da gráfica, constatou a AFP.
Pouco depois, no leste de Paris, foram ouvidas detonações ensurdecedoras de armas automáticas e granadas, os policiais invadiram a loja de produtos judaicos onde ocorreu a tomada de reféns, e libertaram vários deles.
Pouco após, fontes de segurança informaram que cinco pessoas morreram na loja, entre eles o sequestrador, e outras quatro teriam ficado gravemente feridas”.
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