Por Marina Yukawa, da AUN, USP
A tese de doutorado da pesquisadora Mariana Thibes intitulada A vida privada na mira do sistema: a internet e a obsolescência da privacidade no capitalismo conexionista aborda a contradição entre as ameaças à privacidade em meio virtual e a crescente exibição voluntária na internet. A socióloga conclui que a exposição de informações pessoais na rede está diretamente ligada ao capitalismo conexionista, pois a partir da vida pessoal é possível obter lucros.
A privacidade foi inventada pelos burgueses, no século 19, para separar o lar do trabalho, definindo os dois ambientes com valores, papéis sociais e códigos próprios. O mundo do trabalho era tumultuoso, duro, perigoso e tentador, enquanto que o lar significava proteção e amparo. Já na década de 1960, a vida privada começa a integrar a esfera produtiva. A ideia de que as emoções, criatividade, autenticidade e outras características pessoais dos funcionários são parte importante para sua produtividade começa a ser propagada. Portanto, “a percepção de que a partir da vida pessoal é possível obter lucros não é nova, mas sua apreensão direta como mercadoria o é, e nisso a internet desempenha papel fundamental”.
Informações pessoais favorecem empresas - Com as novas tecnologias, principalmente a internet, o fim da separação entre público e privado é consolidado, e a apropriação de informações privadas é legitimada. A apresentação pessoal com as qualidades apreciadas pelo mercado gera a ampliação de conexões e novos relacionamentos, permite a conquista de emprego, cria uma reputação e pode ser convertida em ganhos monetários. As curtidas, seguidores e compartilhamentos podem gerar receita. “É por isso que o ato da exibição não somente é consciente, mas cercado por cuidados estratégicos que visam o sucesso no capitalismo conexionista. Agora não basta apenas ser bem-sucedido, é preciso mostrar que se é.”
Além de lucro para os usuários, as informações pessoais também podem favorecer empresas. Tecnologia de informação e monitoramento de mídias sociais são investimentos cada vez mais importantes para empresas que querem se posicionar no meio. Os dados pessoais são utilizados para estudar e conhecer melhor o público, e assim criar planos de negócios mais efetivos e lucrativos para cada segmento. Governos democráticos também utilizam a vasta e acessível rede de dados para vigilância, como foi evidenciado pelas denúncias de espionagem do ex-agente da NSA, Edward Snowden.
(Foto: Marina Yukawa)
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